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Brasileira medalhista paraolímpica é colocada para fazer prova que doença não permite e pode ficar fora de Paris-2024

Susana Schnarndorf durante a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro, quando ganhou a medalha de prata YASUYOSHI CHIBA/AFP via Getty Images

Uma avaliação de classe arbitrária – e que dá todos os indícios de ser errada – causou uma situação bastante incômoda e pode tirar um dos bons nomes da natação paralímpica brasileira de Paris-2024. Susana Schnarndorf foi colocada pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC) em uma prova que ela simplesmente não consegue competir por conta de sua doença.

"Fiquei sem chão, perdida. Planejei meu ano bem diferente e de repente, virou tudo de cabeça pra baixo. Entrei em depressão novamente, me senti sozinha. Toda essa questão me fez mal, minha saúde piorou. O estresse afeta muito minha doença, tenho crises de ansiedade, crise de pânico, depressão e labirintite", conta Susana Schnarndorf.

Na natação paralímpica, as classes são separadas por letra e número. A letra significa o tipo de nado e o número representa o grau de comprometimento ou funcionalidade. Quando começou, Susana disputava competições como S8. Sucessivas reavaliações a levaram até a classe S3 graças ao avanço de uma doença degenerativa que vai reduzindo o controle do próprio corpo.

Em sua última competição internacional em fevereiro, na Escócia, pela primeira vez em 14 anos, a nadadora subiu de classe e foi considerada S5 na análise do Comitê Paralímpico Internacional (IPC).

A avaliação não leva em consideração pontos cruciais, como a comprovação médica de que sua condição está piorando com o passar do tempo. Para piorar, ela teria que fazer a prova de 200m medley na classe S5. Ela inclui o nado borboleta, estilo que Susana não consegue mais executar devido à limitação de seu movimento em um dos braços.

Para ter a chance novamente de disputar as Paralimpíadas, Susana precisa passar por reavaliação em outra competição internacional. No entanto, as vagas para essa reclassificação são dadas apenas a atletas que estão entre as 10 melhores do ranking.

Como foi considerada S5, Susana caiu da 2ª para a 25ª colocação no ranking. E ela só subiria se disputasse e fosse bem em alguma prova – o que não vai acontecer justamente porque ela não consegue fazer o nado borboleta.

"Ainda tenho esperança de disputar a medalha em Paris, mas o tempo está passando e ainda não consegui fazer a reclassificação que permite disputar a prova da classe S3. O esporte é minha vida, estou viva porque sigo como atleta, então não posso parar", diz a nadadora.

Diante dessa situação, a decisão de levar a Susana para reclassificação é do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). O prazo final para inscrição em uma reclassificação é dia 30 de maio.

Em contato com a ESPN, porém, o CPB não deu respostas que possam animar muito.

“O Comitê Paralímpico não avalia a classificação do Comitê Paralímpico Internacional. A atleta tem todo o suporte do Comitê, inclusive com acesso a toda a estrutura do Centro de Treinamento Paralímpico. Ela necessita atender os critérios de convocação para ir a uma etapa do World Series. Caso atenda, poderá ser convocada e ser reclassificada”, disse a Confederação Brasileira.

Susana Schnarndorf acumulou 13 anos como triatleta e 6 títulos da prova de Ironman quando começou a sentir os primeiros sintomas de sua doença em 2005. Após 3 anos de angústia, exames e internações hospitalares, foi comprovado que ela tinha Atrofia de Múltiplos Sistema (AMS), uma condição degenerativa rara que afeta o controle do movimento, equilíbrio e coordenação e atinge de 3 a 4 pessoas a cada 100 mil. O diagnóstico dos médicos era de 6 meses a até 2 anos de vida para Susana, mas a natação trouxe uma nova esperança.

Em 2010, participou de uma competição internacional de natação paralímpica, no Canadá. A classificação para disputar a modalidade mudou sua vida e a aproximou novamente da rotina de atleta. Desde então, foi medalhista de prata nas Paralimpíadas do Rio 2016, campeã mundial e recordista brasileira nos 50m, 100m, 400m livres, 100m peito e 200m medley.